Informação: Alimentação x Obesidade Infantil
- Graças Marins
- 3 de ago. de 2012
- 3 min de leitura
Mídia contribui para o aumento da obesidade infantil
01/08/2012

A obesidade infantil é apontada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um dos mais graves problemas de saúde pública. No Brasil, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), um terço das crianças de 5 a 9 anos está com peso acima do recomendado. Nos últimos 20 anos, os casos de obesidade nessa faixa etária quadruplicaram. O Observatório da Imprensa exibido ao vivo na terça-feira (24/7/12) pela TV Brasil discutiu o papel da publicidade no aumento do peso das crianças.
A polêmica em torno da propaganda de alimentos para o público infantil afeta até a comunidade científica. Uma mesa de debates que seria realizada no Congresso Mundial de Ciência e Tecnologia sobre o papel da mídia na obesidade infantil foi cancelada para não afugentar possíveis patrocinadores. O encontro será realizado em agosto, no Brasil. A Sociedade Brasileira de Ciência e Tecnologia de Alimentos (Sbcta) havia proposto a discussão por considerar o sobrepeso das crianças um tema urgente.
Em 2010, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) baixou uma resolução com novas regras para a publicidade de alimentos. A medida previa que ao final das propagandas de produtos com elevadas quantidades de açúcar, sódio e gorduras saturadas ou trans, deveria ser emitido um alerta sobre os riscos desses produtos para a saúde. O texto levantou polêmica e foi suspenso três meses depois pela Advocacia Geral da União, que avaliou a medida como inconstitucional. O pedido de suspensão foi feito pelo Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar) e pela Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação (Abia).
Entre os fatores apontados para a obesidade infantil estão o pouco tempo dedicado às atividades físicas e o consumo excessivo de alimentos industrializados. Se o quadro não for revertido, as próximas gerações correrão um risco maior de desenvolver hipertensão, diabetes, problemas cardiovasculares, renais e cerebrais. Apenas uma ação conjunta entre Estado, família, indústria e agências de publicidade pode mudar o panorama.
A reportagem exibida antes do debate entrevistou especialistas no assunto. A coordenadora de Alimentação e Nutrição do Ministério da Saúde, Patrícia Jayme, destacou que é importante que os pais entendam o grande risco que as crianças de hoje têm de desenvolver obesidade. Entre os fatores apontados por ela estão o estilo de vida, o padrão dos alimentos disponíveis para consumo e a exposição ao marketing desses alimentos. Patrícia Jayme ressaltou que a escola deve ser um ambiente de promoção da alimentação saudável e da prática de atividades físicas.

Ao longo de décadas, fatores políticos, sociais e econômicos levaram ao aumento da obesidade infanto-juvenil no Brasil. O ex-ministro José Gomes Temporão citou alguns dos principais fatores que provocaram esse quadro. Um deles é a mudança na dinâmica familiar, que fez com que as pessoas comam fora de casa com uma maior frequência ou que comprem refeições industrializadas prontas em supermercados. Esses produtos, na visão do ex-ministro, são um “coquetel molotov em termos de sal, gordura e açúcar”.
Outros fatores são a entrada da mulher no mercado de trabalho e o aumento da violência, que fez com que as crianças deixassem de brincar nas ruas. Na avaliação de Temporão, é preciso que o consumidor detenha todas as informações acerca do produto que vai consumir para que possa exercer plenamente os seus direitos.
“Será que a publicidade, ao colocar um produto de maneira inteligente, sedutora, inovadora, mostra o outro lado? O que tem ali dentro que, se consumido abusivamente, pode fazer mal para a saúde? Não. Para uma criança, então… Quero lembrar o que para mim é o exemplo mais mórbido: ‘Danoninho vale por um bifinho’. O que isso causou de problemas na saúde pública não está no gibi”, criticou o ex-ministro. Ele ainda afirmou que a sociedade vive paradoxos. De um lado, há uma gigantesca máquina voltada para o consumo e, de outro, um forte mercado de dietas mágicas, livros de autoajuda, academias de ginástica. “Ao mesmo tempo em que a propaganda diz ‘coma um pouco mais disso’, diz ‘você tem que ser magrinho’”, lembrou Temporão.
Futuro comprometido
Além da publicidade na TV, outras estratégias de venda também afetam as crianças, como as embalagens, a colocação dos produtos nos pontos de venda e a distribuição de brindes infantis colecionáveis junto com refeições. A advogada do Instituto Alana ressaltou que o entretenimento mesclado com consumo de alimentos é extremamente prejudicial e pode comprometer a saúde no futuro. “A abusividade e a ilegalidade de se direcionar uma publicidade à criança é porque se sabe que ela é ingênua e que ela vai replicar essa informação, transmitindo-a para o responsável, e vai ser uma promotora de vendas. A criança fica em casa assistindo à TV ou jogando joguinhos de computador, que são repletos de anúncios de alimentos”, disse Ekaterine.
fonte: Observatório da Imprensa – por Lilian Diniz
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